Contacto de leitura
A Feira Dos Assombrados
e outras estórias verdadeiras e inverosímeis.
Autor: José Eduardo Agualusa
Publicado pela primeira vez em 1992
Feira dos Assombrados é um livro de José Eduardo Agualusa e conta a história de um povoado, do Dondo.
Nos finais do sec. XIX começaram a surgir nas margens do Kwanza corpos de afogados trazidos pela corrente. No princípio, os cadáveres ainda pareciam humanos, com o tempo e a decomposição foram-no parecendo menos, entrando então em cena os terrores da superstição e da feitiçaria.
Ao primeiro corpo chamar-lhe-iam Lázaro; ao segundo, desfigurado de monstro inchado, não sabiam se mulher, se criança: Ofélia.
A partir desta descoberta, o Dondo, lugar inteiramente apartado do mundo, vai mergulhar num estranho pesadelo.
Com o aparecimento dos primeiros corpos, precipitam-se alvoroços. O chefe do concelho, Albérico Santoni, pede ao padre que a enterre. O sacerdote recusa-se pois diz que aquilo não é carne humana, que por isso não tem alma. E Ofélia apodrece, em praça pública, a que se juntam outros, afogados do rio, a cada volta do relógio. A praça nauseada com o perfume putrefacto dos mortos faz aumentar o burburinho à volta das suas misteriosas origens.
O vedor, João Maria, casa-se na sequência da gravidez de Mariana, de onde nasce Jesus Mussoco e o irmão. Mariana foge com o mágico – Jácome Filho. Bernardo, o bode, animal de correio, distribui os boatos por todo o Dondo. Os três Bentos, Beltrão Pena, Pratas, Brito, Chico, José da Rosa, Correia Balduíno e Quipangala – o professor que estudou em Lisboa, repugnado pela atividade mercantil – são autores dos bilhetes transportados e das conversas de acordo e desacordo entre as diferentes combinações de bocas, a formar grupos.
Neste livro cruzam-se personagens opinantes, trazem-se história detrás, julgam-se amores, contudo o que a história nos pretende transmitir é a mudança, a evolução do mundo das coisas, da viragem do século que trás consigo a tecnologia, a celeridades de processos desesperantes aos pés do homens, que visam a serventia no futuro.